Especialista destaca o papel do farmacêutico no cuidado com o paciente numa conjuntura em que os serviços de saúde estão cada vez mais interligados
O BioSummit Brasil 2023, que ocorreu no dia 16 de Novembro, contou com um painel transformador que nos fez mergulhar no atual papel da assistência farmacêutica. Através da visão profunda da Dra. Fátima Goularte Farhat, coordenadora do grupo técnico de trabalho em farmácia clínica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, compreendemos a evolução do Cuidado Farmacêutico e sua importância na jornada do paciente.
Muito além da dispensação de medicamentos
A assistência farmacêutica desempenha um importante papel na promoção de saúde e garantia de acesso à população. A estruturação dessa assistência é delimitada em três componentes de medicamentos: Básico, Estratégico e Especializado, cada um com critérios específicos de organização, financiamento, acesso e lista de medicamentos disponíveis.
Nos últimos anos, observamos um aumento considerável nos gastos com o componente estratégico, não devido à incorporação de novos medicamentos, mas sim devido à judicialização, como aponta a Dra. Fátima Farhat. Pacientes recorrem à justiça para obter medicamentos, alguns inclusive já incorporados no rol de medicamentos disponíveis no SUS, mas que por algum motivo não são acessíveis ao usuário, gerando um impacto significativo.
Surge, então, a necessidade de aprimorar a forma como esses medicamentos são acessados, dando início ao desafio do cuidado farmacêutico atual. “Quando falamos de gastos, precisamos abordar a melhoria na forma como esses medicamentos estão sendo acessados. Aqui começa o desafio de falar sobre cuidado farmacêutico”, pontuou a especialista.
Evolução do cuidado farmacêutico ao longo dos anos
Na década de 1960, iniciou nos Estados Unidos o movimento da Farmácia Clínica, que começou a discutir a função do farmacêutico no quadro de profissionais de saúde: se antes o olhar estava especificamente para o medicamento, agora se viu a necessidade de focar no usuário do medicamento.
Esse movimento foi aprimorado na década de 1990 e se aplica hoje em dia em todos os documentos do Ministério da Saúde como Cuidado Farmacêutico que “carrega todo o conhecimento sobre os medicamentos, mas para ampliar em relação ao que fazer com esse usuário”, explica a Dra. Fátima.
A formação acadêmica do farmacêutico teve de se adaptar com mudanças significativas para acompanhar os avanços da área. As diretrizes curriculares dos cursos de graduação foram modificadas em 2002 e mais recentemente com novas atualizações em 2017, no qual o eixo do cuidado farmacêutico passou a compor 50% da carga horária dos cursos. Isso é importante na medida em que “gera profissionais mais capacitados entrando no mercado e com uma visão para o cuidado farmacêutico”, como aponta a palestrante.
A ciência farmacêutica como um cuidado integral na promoção da saúde
O papel do farmacêutico vai além da simples dispensação de medicamentos. Ao longo dos anos, esses profissionais se envolveram em todas as etapas do ciclo da ciência farmacêutica, desde a seleção até a distribuição, assegurando que os medicamentos estejam organizados e bem armazenados.
O farmacêutico sempre foi visto como um profissional do aspecto burocrático dos medicamentos, no entanto “ele vem para a linha de frente compor a equipe como profissional de saúde integrante com essa equipe multidisciplinar na discussão de qual o melhor serviço de cuidado a ser ofertado ao paciente”, como explica Fátima.
A farmácia clínica é uma área de conhecimento que se aplica na forma de cuidado farmacêutico, oferecendo serviços farmacêuticos que podem ser feitos diretamente ao paciente, a família do paciente, para a comunidade de forma integrada com as demais áreas da saúde.
A necessidade de identificar o farmacêutico como um profissional de saúde surge de várias conjunturas em que, como esclarece a Dra. Fátima “usuários somam uma série de situações que podem gerar o que a gente chama de problemas relacionados à farmacoterapia”, que muitas vezes acaba não sendo resolvido de imediato por outros profissionais da saúde.
Situações que o farmacêutico pode atuar
Os usuários enfrentam situações complexas, como polimedicados, esquemas terapêuticos complexos e problemas de adesão ao tratamento. Algumas vezes ocorrem internações ou até mesmo duplicidade no tratamento, dentre uma série de outros problemas que podem surgir.
O farmacêutico, como profissional de saúde, desempenha um papel essencial na resolução desses problemas, “ele tenta identificar, resolver e prevenir possíveis problemas relacionados ao tratamento com medicamentos” aponta a especialista, “de forma que você tenha o acesso e obtenha o máximo de benefício dos medicamentos”.
O Conselho Federal de Farmácia, em 2016, elencou nove serviços farmacêuticos e procedimentos, incluindo educação em saúde, dispensação de medicamentos, manejo de problemas de saúde autolimitados e reconciliação medicamentosa.
O cuidado farmacêutico se preocupa com a adesão do paciente e os resultados em saúde. Consultas farmacêuticas, emissão de pareceres e discussões de casos com equipes multidisciplinares são aspectos essenciais desse cuidado, que vai além da simples entrega de medicamentos.
Em um contexto no qual os cuidados com a saúde se tornam cada vez mais integrais, abarcando equipes multidisciplinares, o cuidado farmacêutico emerge como um pilar fundamental. Na medida em que integra o conhecimento técnico-gerencial dando conta das questões burocráticas, olha para o bem-estar do paciente preocupado em oferecer o maior benefício possível na utilização do medicamento.