De origem predominantemente portuguesa, a paramiloidose se manifesta entre 30 e 40 anos e, sem tratamento, o paciente sobrevive cerca de 10 anos após os primeiros sintomas
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 10 de novembro de 2016 o medicamento Vyndaqel (tafamidis), da Pfizer, primeiro e único tratamento específico para adultos com polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), ou paramiloidose. Doença neurodegenerativa, genética, progressiva e irreversível, a enfermidade costuma ser diagnosticada entre os 30 e os 40 anos de idade e os pacientes sobrevivem, em média, apenas dez anos após o surgimento dos primeiros sintomas, se não houver tratamento adequado.
De origem predominantemente portuguesa, a PAF foi incluída no ano passado na lista de doenças raras prioritárias de discussão do governo brasileiro. Embora se trate de uma doença rara, em Portugal sua prevalência é elevada, chegando a um caso a cada 500 habitantes em algumas regiões¹. Os japoneses também apresentam uma incidência aumentada da doença em relação à população em geral, assim como suecos e africanos.
Embora não existam estatísticas nacionais oficiais sobre a PAF, estima-se que existam milhares de brasileiros com a doença, o que pode fazer do País uma das nações com o maior número de pacientes no mundo. “A origem da enfermidade a torna especialmente relevante para o Brasil, que abriga um número de descendentes de portugueses superior ao próprio total de habitantes de Portugal. Por isso, a chegada de Vyndaqel, que nos estudos clínicos se mostrou capaz de retardar a progressão da PAF de forma muito expressiva, representa uma grande esperança para esses pacientes”, diz o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia.
A PAF é causada por uma mutação no gene de uma proteína do plasma sanguíneo chamada transtirretina (TTR), sintetizada principalmente pelo fígado. Por isso, antes da aprovação de Vyndaqel (tafamidis), uma das poucas opções para os brasileiros era a realização do transplante hepático, um procedimento que requer uma série de cuidados por toda a vida. Considerado uma droga-órfã para esses pacientes, Vyndaqel foi aprovado já em 2011 na União Europeia e também é comercializado no Japão, México, Israel, Argentina e Coreia do Sul.
Sobre a PAF
No paciente com PAF, a mutação leva à produção de proteínas TTR instáveis, que se depositam em vários tecidos do corpo, interferindo em seu funcionamento. Com elevado potencial incapacitante, a PAF costuma se manifestar inicialmente por meio da perda de sensibilidade à dor e à temperatura nos membros inferiores.
A progressão da doença é variável entre os pacientes, mas normalmente há uma combinação de sintomas, envolvendo diferentes órgãos. Assim, podem ocorrer alterações gastrointestinais, renais e cardíacas, além de perturbações visuais e, nos homens, quadros de disfunção erétil. Trata-se de uma doença neuromuscular autossômica e dominante, ou seja, o filho de um paciente apresenta 50% de risco de também ser portador da mutação que causa a enfermidade, sendo a V30M a mutação mais comum no Brasil.
Sobre o medicamento
Vyndaqel (tafamidis) age impedindo que as proteínas TTR se desestabilizem. Dessa forma, o tratamento é capaz de retardar significativamente a progressão da doença em pacientes medicados em sua fase inicial, conforme mostram os dados de um novo trabalho científico envolvendo três estudos com o medicamento. Os resultados foram apresentados neste ano, durante o 27º Congresso Brasileiro de Neurologia, em Belo Horizonte.
Na análise, que envolveu 71 indivíduos com PAF que apresentavam a mutação genética V30M na transtirretina, os pacientes foram tratados por diferentes períodos, chegando a 5,5 anos. Nesse estágio, sem tratamento, em geral os pacientes já necessitam de auxílio para caminhar.
Com a medicação, a progressão média da doença no grupo estudado foi mínima, representando apenas 5,3 pontos na escala NIS-LL (Neuropathy Impairment Score of the Lower Limb), que é um sistema de avaliação clínica que reúne testes de sensibilidade, força muscular e reflexos para dimensionar o comprometimento dos membros inferiores em pacientes com neuropatias periféricas. Nessa escala a pontuação varia de 0 (estado normal) a 88 (comprometimento total).
Na análise, Vyndaqel também se mostrou capaz de impedir a perda de peso corporal não intencional nos pacientes, uma vez que a PAF costuma ser acompanhada por distúrbios gastrointestinais que muitas vezes levam à desnutrição. Além disso, o medicamento demonstrou um bom perfil de segurança e foi bem tolerado pelos pacientes, de modo que não houve registros de efeitos colaterais graves ou inesperados.
As doenças raras
As doenças raras formam um grupo de enfermidades graves, que juntas afetam cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). Embora existam mais de 7 mil doenças conhecidas nessa categoria, apenas cerca de 5% contam com algum tratamento aprovado.
Na Pfizer, as doenças raras representam uma área prioritária para investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), reforçando o compromisso da companhia na busca por tratamentos para necessidades médicas não atendidas, independentemente da prevalência dessas doenças.
Para isso, a companhia se baseia em mais de duas décadas de experiência nesse segmento, contando com um pipeline robusto composto por mais de 20 moléculas em estudo, além de um amplo portfólio global com mais de 20 medicamentos aprovados em todo o mundo, englobando medicamentos para doenças raras nas áreas de hematologia, neurociência, distúrbios metabólicos hereditários e pneumologia.
Referências:
1. Alves IL, Altland K, Almeida MR, et al. Screening and biochemical characterization of transthyretin variants in the Portuguese population. Hum Mutat. 1997;9(3):226-33.
Fonte: SEGS