Ausência de centros de infusão onera cofres públicos e coloca em risco a vida de pacientes com doenças imunomediadas e raras

Raimunda Barbosa Maciel, de União, interior do Piauí, convive com a artrite reumatoide e há mais de quatro anos retira, através das Farmácias de Alto Custo do Sistema Único de Saúde (SUS), o Tocilizumabe, medicamento que a ajuda a controlar os sintomas da doença, que, se não tratada, pode comprometer as articulações, levando a deformidades e perda de mobilidade. 

Contudo, não há locais para aplicação do medicamento pelo SUS onde ela mora. Por isso, Raimunda paga do próprio bolso a aplicação do medicamento em uma clínica da capital, que custa R$110 por sessão. “Moro a 56 km da clínica, que fica em Teresina. Além de pagar a infusão, eu pago passagem, alimentação, Uber… É um custo muito alto para mim”, conta. 

Infelizmente, essa é a realidade de milhares de brasileiros que retiram medicamentos de alto custo pelo SUS, e depois descobrem que não há centros de infusão para aplicação e acompanhamento do tratamento. Quem pode pagar, realiza o tratamento em clínicas particulares, e quem não pode fica com o medicamento na geladeira, sem saber o que fazer. 

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Há apenas 13 centros de infusão no país do SUS 

Os centros de infusão – também chamados de Centros de Terapia Assistida (CTA) – desempenham um papel essencial na jornada do paciente. Com uma equipe multidisciplinar, esses centros garantem a correta preparação, aplicação, transporte e armazenamento dos medicamentos. Além disso, fornecem orientações importantes, assegurando que o paciente compreenda e execute o tratamento de forma eficaz.

“Lá, é melhor que a consulta médica, que sempre é corrida. No centro de infusão, as enfermeiras me atendem com mais tempo e me fazem muitas perguntas sobre a minha saúde, mais que os médicos”, conta Fernando Henrique dos Santos, de 41 anos, que também convive com artrite reumatoide e realiza o tratamento em um centro de infusão que atende o SUS e planos de saúde, em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo.  “Elas perguntam se estou com dor, se estou conseguindo me alimentar bem, se estou bebendo bastante líquido e também me cobram para eu me alongar mais, me cuidar mais. O atendimento é excelente.”

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, existem cerca de 50 centros de infusão no País, mas apenas 13 deles estão dedicados ao atendimento exclusivo do SUS.  Além disso, somente 5 estados possuem CTAs implementados e geridos pelas secretarias estaduais de saúde, de acordo com levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Centros de Terapia Assistida no SUS podem trazer economia de R$189 milhões para cofres públicos

Além de garantir a infusão dos medicamentos essenciais para a vida de milhares de pacientes e um bom acompanhamento do tratamento, a implementação dos centros de infusão também permite a possibilidade de fracionar doses e, com isso, trazer a economia de milhões de reais para os cofres públicos. 

O serviço de referência nacional do Centro de Dispensação de Medicações de Alto Custo (CEDMAC) estima que o custo-minimização do modelo de centros de terapia assistida dos medicamentos infusionais e subcutâneos, se implementados no SUS, podem trazer uma economia de R$ 189 milhões de reais ao ano para o Ministério da Saúde. 

Assunto não é novo para o Ministério da Saúde 

A ausência de centros de infusão não é um assunto novo para o Ministério da Saúde. Em 2018, foi publicada a Portaria GM/MS nº 1160, que instituiu o Grupo de Trabalho (GT) para discussão e formulação da Política Nacional de Medicamentos Biológicos no âmbito do SUS. O relatório destacou a urgência de criação de centros de infusão. 

Já, em 2021, foi lançada, pelo Ministério da Saúde, a publicação Contribuições para Promoção do Uso Racional de Medicamentos, recomendava também a ampliação dos centros de infusão no país. “Os centros de infusão são estabelecimentos de saúde que podem contribuir de maneira ímpar para o Uso Racional de Medicamentos, estabelecimento de ações de farmacovigilância, economia de recursos públicos com redução do desperdício dos medicamentos por meio do compartilhamento de dose, quando possível, melhoria nos processos de armazenamento, distribuição, dispensação e uso, entre outros”, cita o documento.

No entanto, de lá para cá, a situação permanece. Mais de 40% dos pacientes – de acordo com pesquisa realizada pela Biored Brasil, em 2023, seguem sem acesso aos centros de terapia assistida.   

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