Os desafios da ausência de Centros de Terapias Assistidas (CTA) no SUS foi um dos temas de destaque no BioSummit Brasil, realizado entre 29 e 30 de novembro. Os CTAs permitem oferecer o suporte à aplicação de medicações imunobiológicas, mas não só isso: também é uma forma preventiva de acompanhar esses pacientes e monitorar possíveis efeitos adversos.
Contudo, o tema ainda engatinha no sistema público de saúde. Há poucos centros destinados a este tipo de terapia. Para entender mais sobre o assunto, dois cases no país foram apresentados no webinário: Elaine Lazzaroni, farmacêutica do INCA trouxe a experiência do CTA no SUS para o tratamento oncológico e Julio César Bertacini de Moraes, membro da comissão de centro de terapia assistida da Sociedade Brasileira de Reumatologia apresentou o Centro de Medicação de Alto Custo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Centros de terapia assistida começaram na Oncologia
A experiência na Oncologia pode servir de base para a criação de demais centros de terapia assistida para outras doenças que utilizam os medicamentos biológicos. Esse tipo de serviço surgiu com a portaria de Nº 3535, de 1998, que permitiu a criação de critérios para cadastramento de centros de atendimento em Oncologia. Posteriormente, com a resolução 220 da Anvisa, em 2004, criou-se o regulamento do serviço de terapia antineoplásica. “Por fim, em 2007 com a resolução 67 há a regulação das recomendações de manipulação dos produtos estéreis. Uma resolução super importante para a nossa área e que pode servir de base para os medicamentos biológicos em outras áreas”, explica Elaine. Confira o vídeo da apresentação: https://youtu.be/l7AkNYG6WqM
Os centros de terapia assistida permitem uma melhor gestão das compras de medicamentos, do preparo e administração dos medicamentos, mas também do acompanhamento na jornada do paciente. “Em relação a farmacoeconomia, a gente pode ganhar poder de negociação para redução de preços por conta do volume de demanda”, destaca a farmacêutica.
Além disso, é possível o fracionamento de doses, o que ajudaria também no melhor aproveitamento de custos. Para o paciente, o ganho também é significativo. É possível desenhar um plano de cuidado, com atendimento de uma equipe multidisciplinar especializada e ajudando esses pacientes a navegar de uma forma mais fluida. “Não é só pensar na infusão: precisamos de estrutura, gestão, profissionais e otimização da jornada do paciente.”
De acordo com a especialista, na Oncologia, o financiamento é por procedimento, ao invés do medicamento. Além disso, 80% dos centros especializados são privados. “Diante disso, fica uma provocação: se vamos pensar em centros de terapia assistida para doenças crônicas, como vai ser feito esse financiamento?”
Experiência na Reumatologia: Centro de Dispensação de Medicamentos de Alto Custo (CEDMAC – HCFMUSP)
“Não tem como se pensar em tratamento como imunobiológico em reumatologia, sem se pensar em terapia assistida”, conta Júlio César Bertacini de Moraes, médico reumatologista membro da comissão de Centro de Terapia Assistida da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Corroborando a experiência na Oncologia, apresentada por Elaine, o especialista apresentou o case sobre o CEDMAC: o Centro de Dispensação de Medicamentos de Alto Custo, que funciona em São Paulo. Confira o vídeo da apresentação: https://youtu.be/qTVDU-XdRdY
“Na época não tínhamos nada desse tipo no Brasil. Por meio de uma parceria com a Secretaria Estadual de Saúde e com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo montamos o CEDMAC”, relembra Júlio, que foi diretor da unidade. No centro é feito o manejo dos imunobiológicos para tratamento de pacientes com doenças reumatológicas, além do atendimento multidisciplinar, com consultas médicas, acompanhamento com a equipe de enfermagem e assistência farmacêutica.
Assim como na Oncologia, os biológicos são injetáveis, precisam de um armazenamento adequado e podem trazer riscos aos pacientes, como a imunossupressão, por isso precisa ter esse cuidado mais de perto.
Dispensação direta do medicamento ao paciente traz riscos à sua saúde
Uma das fragilidades da entrega do medicamento diretamente na mão do paciente é que não há como acompanhar e orientar tanto sobre a aplicação correta, quanto do armazenamento e da própria adesão ao tratamento. Já na administração assistida, por meio de centros especializados, há controle total da aplicação correta, do armazenamento, rastreamento ativo das contra indicações, avaliando de perto a saúde do paciente que chega para receber o medicamento se ele pode receber naquele dia ou não. “Permite o acesso racional às medicações de alta complexidade em reumatologia, com excelente no atendimento, foco na segurança do paciente e monitoramento ativo da efetividade clínica”, conta Júlio.
Investir em terapia assistida poderia poupar R$ 120 milhões no SUS
A experiência do CEDMAC proporcionou alguns resultados interessantes que permitem projetar como seria a realidade no SUS se tivéssemos mais centros de terapia assistida. Além de um melhor acompanhamento do paciente, uma economia de gastos poderia prever mais acessos a tratamento no país. “A terapia assistida permite otimização de recursos. No CEDMAC, para cada R$1 investido, a gente consegue devolver R$2 para a sociedade”, destaca o reumatologista.
Nas projeções apresentadas pelo especialista, seria possível economizar 25% dos frascos de medicamentos endovenosos e cerca de 20% nos subcutâneos. “Com isso, poderíamos atender 25% dos pacientes com o mesmo número de frascos comprados. Além disso, os CTAs poderiam proporcionar uma economia de R$120 milhões no SUS”, finaliza Júlio.
Para assistir na íntegra às discussões, clique no link dos vídeos disponíveis no Youtube da Biored Brasil:
- Centro de Terapia Assistida do SUS – Experiência da Oncologia – Instituto Nacional do Câncer (INCA/MS): https://youtu.be/l7AkNYG6WqM
- Centros de Medicação de Alto Custo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (CEDMAC HCFMUSP): https://youtu.be/qTVDU-XdRdY |
Sobre a Biored Brasil
A Biored Brasil é um movimento social, com representação no Conselho Nacional de Saúde, e conta com uma rede formada por 42 instituições presentes em 9 Unidades Federativas Brasileiras (DF, CE, ES, MG, PR, RJ, RS, SC e SP). BioSummit Brasil 2022, será realizado de forma híbrida e contará com a participação presencial dos líderes de associações de pacientes que compõem a Biored Brasil.