A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou acreditar na chegada de um consenso para o lançamento de uma coalizão internacional, no âmbito do G20, para a produção local e regional de medicamentos e vacinas. A parceria entre os países se insere em uma das prioridades da presidência brasileira no G20, que é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
As negociações ainda estão em curso, segundo a ministra, mas se forem concluídas marcarão um fato inédito e vão ajudar a reduzir a desigualdade no acesso à saúde no mundo. Como exemplo dessa disparidade, citou o calendário mais lento da vacinação contra a covid-19 na pandemia mais lento na maioria dos países.
“A principal contribuição esperada é […] nós tenhamos uma coalizão dos países para a produção local e regional de vacinas e outros medicamentos. Isso será um fato inédito, temos trabalhado para reduzir a desigualdade entre os países e aumentar esse acesso [a vacinas e a medicamentos]”, disse, durante reunião técnica prévia ao encontro dos ministros de Saúde do G20, realizada em um hotel na zona oeste do Rio.
“Essa é a principal medida que esperamos que seja aprovada. Ainda está em negociação, mas estamos com muita segurança que seja aprovada, [até] pelos debates já feitos”, completou.
O acordo para a produção local de medicamentos e vacinas prevê a participação voluntária dos países do G20 e tem foco inicial em doenças negligenciadas, de acordo com Trindade: “Mas é uma maneira de reforçarmos essas capacidades nacionais”.
Um dos objetivos é evitar a dimensão das diferenças entre as nações no acesso a medicamentos e vacinas, disse ela, ao reforçar a importância dessa coalizão. “Não é possível continuarmos com a dependência que se verificou na pandemia de covid-19, quando [no início] apenas 10% das nações tinham aplicado a primeira dose de vacina para covid e outros países demoraram muito mais para isso. Isso impacta nas mortes por covid e é uma situação que precisamos reverter”.
Outro tema prioritário dentro dos debates de saúde no âmbito do G20 é a influência das mudanças climáticas. No caso da dengue, por exemplo, países que nunca enfrentaram a doença agora são vítimas. Nísia Trindade explicou que as decisões sobre essa temática do aquecimento global devem ser tomadas sob a liderança da Organização Mundial de Saúde (OMS), mas que é possível avançar em busca de um consenso no G20.
“Queremos aprofundar não só a discussão, mas pensar em conjunto em medidas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na saúde e com uma discussão de um instrumento para enfrentamento de novas pandemias. Não é aqui o fórum, o fórum é a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas esperamos avançar num consenso a partir dessa reunião do G20”, afirmou.
Um dos assuntos das reuniões temáticas de técnicos da área de saúde dos países do G20 é o impacto da desinformação na vacinação da população, que vinha em queda desde 2015, mas se acentuou na pandemia, segundo o diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Jarbas Barbosa.
“A região das Américas é a que mais tem recuperado cobertura de vacinação no mundo, puxada inclusive pelo Brasil, mas ainda está longe dos 95% que temos como objetivo”, disse.
Ele defendeu a necessidade de “táticas mais direcionadas a audiências específicas” para combater a desinformação, inclusive para profissionais de saúde. “Eles [os profissionais de saúde] não estão bem informados sobre como as vacinas são produzidas, a eficácia das vacinas… […] Precisamos lidar com os novos desafios para disseminar informações confiáveis sobre as vacinas. Não se pode, em 2024, duvidar da eficácia das vacinas”, afirmou.