Antivirais contra a Covid-19: o que se sabe até o momento
Pacientes com doenças imunomediadas podem ter imunossupressão tanto pela condição de saúde, quanto pelo próprio tratamento que pode induzir o quadro. Saber disso é muito importante, já que não é raro de se ver pacientes que não respondem bem à vacina, aumentando o risco de desenvolver quadros graves da infecção pelo vírus da Covid-19. “Estudos mostram que entre pessoas que se contaminam com o vírus 15% podem evoluir para casos graves e 5% para muito graves”, explica Jéssica Ramos, infectologista do Centro de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). E esse cenário pode ficar pior em pacientes imunossuprimidos. Confira a íntegra da apresentação: https://youtu.be/k1P-WOLjVLM
De acordo com um relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, em indivíduos imunossuprimidos, durante a onda da Omicron, duas doses da vacina são capazes de prevenir internações em 36% dos casos, com três doses esse número sobe para 67%. Contudo, após três meses da imunização, a taxa cai para 32% e sobe discretamente para 43% após a quarta dose.
Ou seja, a resposta à vacina varia bastante nesses pacientes, como também há menos eficácia do imunizante. “A gente sabe que, nessas pessoas, há menos produção de anticorpos, podendo levar, também, a um quadro persistente, a Covid prolongada”, complementa. De olho nisso, durante o BioSummit Brasil, encontro anual da Biored Brasil, que aconteceu nos dias 29 e 30 de novembro, especialistas debateram as novas opções terapêuticas para tratamento da Covid-19 com um olhar especial em pacientes imunossuprimidos.
Entenda mais sobre o antivirais contra a Covid-19
Até o momento, no Brasil, há a aprovação pela ANVISA de três antivirais: o Nirmaltrelvir/Ritonavir, o Molnupiravir e o Remdesivir. Com exceção do último, as demais drogas ainda não estão disponíveis no Brasil. “Apenas o Remdesivir pode ser encontrado na rede privada”, conta Jéssica. De forma geral, os três antivirais devem ser utilizados por cinco dias e logo após o início dos sintomas.
Nirmaltrelvir/Ritonavir
O Nirmaltrevir é o inibidor de uma das enzimas que o vírus utiliza para se multiplicar. “Ele foi associado ao Ritonavir para aumentar o tempo de circulação no corpo”, explica a infectologista. De acordo com o estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, que avaliou o uso do medicamento em comparação em um grupo de pacientes em comparação ao uso de placebo, o antiviral foi capaz de reduzir em 89% o risco de internação pela doença. “Um ponto de atenção são as interações medicamentosas: é um medicamento que interage com diversas classes de drogas, incluindo imunossupressores”, conta Jéssica.
Molnupiravir
Similar ao anterior, o medicamento deve ser utilizado por cinco dias logo após o início de sintomas. “Esta nova droga reduz em até 30% a progressão para sintomas mais graves da Covid-19. Ou seja, apresenta uma eficácia pouco rebusta”, explica a médica.
Riscos de rebote
Um possível risco de uso tanto do Nirmaltrevir/Ritonavir quanto do Molnupiravir é o rebote. Após a descontinuação dos medicamentos, foram observadas reincidências dos sintomas da Covid-19 em alguns pacientes. Porém, os números não são alarmantes. “Há esse risco de rebote quando utilizamos esses medicamentos: cerca de 3 a 5% após 7 dias de uso”, explica a infectologista.
Remdesivir
Diferentemente dos anteriores, o Remdesivir é de uso endovenoso, ou seja, somente em ambiente hospitalar. De acordo com estudos, a taxa de eficácia em prevenir a gravidade da doença é de 84%. “E o mais interessante é que ele demonstrou a mesma eficácia em pacientes com doenças autoimunes.”
Anticorpos monoclonais tixagevimab/cilgavimab
Produzidos em laboratório, os anticorpos monoclonais são utilizados para tratar um alvo, no caso, um antígeno. Amplamente utilizado na Oncologia, os anticorpos monoclonais vêm sendo estudados para tratamento da Covid-19. Diferentemente da vacina que induz a produção de anticorpos, os monoclonais já possuem os anticorpos prontos para agir no organismo.
Aprovado para uso emergencial no início deste ano pela ANVISA, o medicamento deve ser utilizado como profilaxia, ou seja, antes da exposição ao vírus. A entidade também destaca que os anticorpos monoclonais não substituem a vacinação.
Sendo assim, é recomendado para um grupo seleto de pacientes, entre eles que possuam comprometimento imunológico ou em tratamento com imunossupressores e aqueles cuja vacinação não é recomendada.
Plasma convalescente
No racional dos anticorpos monoclonais, o plasma convalescente é a doação de sangue de pacientes que se recuperaram da Covid-19. Com isso, aproveita-se os anticorpos presentes para infundir em outro paciente que esteja acometido pelo vírus.
De acordo com um estudo realizado na Argentina com pacientes com comorbidades acima dos 70 anos, o tratamento conseguiu reduzir em cerca de 50% o risco de internação. Contudo, o assunto ainda carece de mais estudos para chegarmos a um protocolo de utilização.
Qual é o melhor?
De acordo com a infectologista, o calcanhar de aquiles dos estudiosos sobre o tema é a rapidez que o vírus sofre mutações. Alguns medicamentos funcionam melhor com as variantes, outros perdem a eficácia. Por isso, novos estudos estão sendo feitos nesse sentido para avaliar melhor a ação dos medicamentos e tratamentos.
“Na prática, a gente avalia cada caso de imunossupressão, o tipo de doença de base, quantas doses de vacina foram tomadas ou não e o tipo de remédio imunossupressor”, explica Jéssica. A especialista destaca que o antiviral oral é mais recomendado para pacientes com baixo risco para complicações, enquanto o endovenoso deve ser utilizado em aqueles que possuem alto risco ou que não podem tomar a versão oral.
Em relação aos anticorpos monoclonais e o plasma convalescente, cada caso precisa ser avaliado levando em consideração quando a pessoa foi infectada e qual a variante que teve. “Além disso, ainda não temos um consenso sobre a possível combinação de antivirais”, conta.
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