A garantia de segurança dos medicamentos biossimilares é uma questão importante para as organizações de pacientes. A segurança inclui uma ampla variedade de questões, dentre elas como os biossimilares são definidos e nomeados, sua capacidade de causar reações imunes, regulamentação e farmacovigilância. Essas questões são discutidas a seguir em maiores detalhes.
Pode haver efeitos adversos?
Medicamentos biológicos, incluindo os biossimilares, têm o potencial de causarem uma reação imune no organismo. Essa é uma preocupação constante tanto para pacientes quanto para médicos.
As consequências dos efeitos adversos dos medicamentos biológicos podem variar desde a ausência total de efeitos clínicos sobre o corpo até efeitos adversos bem mais graves causados pela perda de eficácia ou pela neutralização do medicamento, tornando-o menos eficaz ou totalmente ineficaz. O efeito mais comum é a perda de eficácia, isto é, o medicamento não funciona tão bem quanto antes, o que pode levar a reações imunes gerais tais como reações alérgicas ou anafilaxia. Em alguns casos, os anticorpos produzidos no organismo neutralizam o medicamento, fazendo com que pare de funcionar completamente, o que pode ser perigoso. Em outros casos, a autoimunidade pode ocorrer quando os anticorpos que são produzidos para neutralizar a proteína no medicamento se misturam e também neutralizam a própria proteína do corpo.
Vários fatores irão determinar se um medicamento biológico, incluindo os biossimilares, causarão uma reação imune ou não:
- o estágio da doença;
- fatores relacionados ao medicamento, tais como partículas agregadas, impurezas ou contaminantes;
- fatores relacionados ao paciente, tais como idade e sexo;
- fatores relacionados ao tratamento, por exemplo, outros medicamentos utilizados ou a forma de administração.
“A possibilidade de um medicamento biossimilar produzir uma reação imune deve ser avaliada criteriosamente durante seu desenvolvimento.”
O caso EPREX
Os pacientes em tratamento com eritropoietina (EPO), um medicamento biológico, podem desenvolver aplasia pura de células vermelhas (APCV), um tipo de anemia causada pela neutralização da eritropoietina do próprio corpo. Entre 2000 e 2002 houve um aumento significativo no número de casos de APCV nos pacientes. Esses casos foram associados ao desenvolvimento de um anticorpo neutralizador da eritropoietina administrada aos pacientes, o qual também neutralizava a eritropoietina do próprio corpo. Com o tempo descobriu-se que essa reação imune e o aumento dos casos de APCV na verdade eram causados por uma pequena mudança de fabricação na formulação de um medicamento biológico bastante conhecido e amplamente utilizado chamado Eprex.
O Eprex não era um medicamento biossimilar, e sim um medicamento biológico original. Com uma alteração do processo de fabricação, o caso Eprex mostra claramente como uma pequena mudança pode afetar a capacidade de um medicamento biológico produzir uma reação imune. Essas relações são difíceis de prever, podem surgir depois do paciente já estar tomando um medicamento há bastante tempo, e podem continuar depois de o paciente haver suspendido seu uso.
Os fatores descritos acima significam que a possibilidade de um medicamento biossimilar produzir uma reação imune deve ser avaliada criteriosamente durante o desenvolvimento do medicamento, antes de ser disponibilizado para os pacientes. Apesar de existirem métodos que podem ajudar a prever isso antes dos ensaios clínicos, tais métodos em geral são insuficientes. Portanto, os ensaios clínicos são essenciais. Às vezes, quando se sabe que certa resposta imune é rara no produto de referência e, portanto, pouco provável de ser detectada em um estudo clínico antes da disponibilização para os pacientes, podem ser necessários estudos adicionais após o medicamento estar sendo utilizado no tratamento de pacientes.
Um documento informativo de consenso publicado recentemente pela Comissão Europeia afirma que, até a sua publicação, o Committee for Medicinal Products for Human Use (CHMP) (Comitê para Produtos Médicos de Uso Humano) e o CHMP Pharmacovigilance Working Party (PhVWP) (Grupo de Trabalho de Farmacovigilância do CHMP) da European Medicines Agency (Agência Europeia de Medicamentos) não haviam identificado nenhuma preocupação de segurança para medicamentos biossimilares aprovados e comercializados. Além disso, um estudo recente que usou todas as evidências de segurança disponíveis para duas eritropoietinas biossimilares aprovadas (na Europa) constatou que ambas tinham perfis de segurança semelhantes e que uma não era mais ou menos segura do que a outra. Também descobriram que, estatisticamente, a incidência de efeitos adversos conhecidos aos dois biossimilares não era mais alta do que a incidência conhecida para as eritropoietinas em geral.
Fonte: IAPO Américas