Mais de 50% dos estudos clínicos no mundo todo são encerrados por falta de participação, segundo dados apresentados pela Global Alliance for Patient Access (GAfPA) durante o BioSummit Brasil, encontro anual da Biored Brasil, que aconteceu nos dias 29 e 30 de novembro de 2022. Monik Amorim, representante da entidade, apresentou barreiras de acesso aos ensaios clínicos, o que impacta no desenvolvimento de novos medicamentos que podem beneficiar milhares de pacientes que possuem diversas doenças.
Falta de informação ainda é a principal barreira
Em uma pesquisa realizada com pacientes, 40% responderam não entenderem bem como funcionam os estudos clínicos. “As principais barreiras incluem a falta de informação e conscientização sobre a doença, o escasso acesso aos profissionais de saúde, estigma da própria condição, como também falta de rede de apoio”, explica a Monik. Além disso, 32% dos respondentes disseram que participavam, sim, de um estudo clínico desde que entendessem o que é. Confira a íntegra da apresentação: https://youtu.be/VSVP1p1erfM
Apesar dos entraves que dificultam a ampla participação dos pacientes, atualmente tem-se mais de 400 mil estudos em andamento, 50 novas terapias aprovadas em 2021 pelo FDA e um investimento de mais de US$160 bilhões por ano em novos ensaios clínicos. Entre os estudos em andamento, mais de 10 mil são focados em doenças neurológicas, como epilepsia, Alzheimer, derrames, entre outros.
80% dos estudos não cumprem as metas do cronograma
O impacto da baixa participação dos pacientes, além de ocasionar atrasos (80%), pode inviabilizar o próprio estudo: 55% dos ensaios terminam devido à baixa inscrição de participantes. “Com isso, a gente perde a oportunidade de desenvolver medicamentos e novas terapias que poderiam beneficiar milhares de pacientes.”
Além da falta de informação sobre o que é um estudo clínico e sua importância para a própria jornada do paciente, há também outros fatores importantes que colaboram para a baixa adesão. Apesar dos estudos cobrirem os custos de medicamentos e exames dos pacientes, ainda temos de olhar para o custo indireto que prejudica a adesão ao processo. “Tem várias questões que podem influenciar a participação ou não do paciente, como: ele vai poder faltar ao trabalho? Quem vai ficar com seus filhos durante as etapas de participação? Esse custo indireto pode acabar desanimando os pacientes de participarem do estudos”, destaca Monik.
Por fim, ainda há o estigma da própria participação nos estudos. “Muitos pacientes ainda pensam que vão ser cobaias dos estudos. Por isso, precisamos apoiá-los com informações para que entendam melhor como funcionam os ensaios”, faz o alerta.
Como melhorar o acesso aos estudos clínicos
De acordo com a GAfPA, diversas medidas podem ser desenvolvidas para apoiar a pesquisa médica. “Os Legisladores podem apoiar os pacientes com bancos de dados online com informações, além de também financiar navegadores para apoiá-los durante todo o processo”, explica Monik. Outras atividades incluem simplificação do processo de inscrição, como também reembolsar os participantes pelos custos de viagem e tempo.
Por outro lado, é preciso também apoiar e capacitar os profissionais de saúde para falar sobre pesquisas clínicas com os pacientes. “Precisamos investir em estruturas que incentivem o profissional de saúde primário a permanecer parte da equipe de cuidados de pesquisa”, diz a representante.
Precisamos priorizar a diversidade nas pesquisas clínicas
A diversidade na inscrição em pesquisas também é um problema enfrentado por pesquisadoras. De acordo com Monik, a maioria dos participantes em estudos clínicos é composta por homens brancos. “Precisamos investir em pesquisas que incluam metas de inscrição com base na raça e diversidade étnica.”
Para isso, a GAfPA acredita que os ensaios também devem incluir pesquisadores negros em equipes de estudo, dedicar recursos ao recrutamento em comunidades diversas e abordar as disparidades econômicas que servem como barreiras para essa diversidade pode existir.