Sociedades médicas expõem sua visão sobre biossimilares e intercambialidade – SBR e Gediib

Representantes da Sociedade Brasileira de Reumatologia e do Grupo de Estudos de Doenças Inflamatórias Intestinais participam do debate 

Dando continuidade ao evento da BioSummit 2019, por meio de representantes, a Sociedade Brasileira de Reumatologia e o Grupo de Estudos de Doenças Inflamatórias Intestinais apresentaram os seus respectivos posicionamentos sobre medicamentos biossimilares e intercambialidade. 

Representando a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a Dra. Hellen de Carvalho foi a primeira a compartilhar o ponto de vista de seus colegas sobre o tema. Para isso, a profissional trouxe aos presentes 16 tópicos, baseados em publicações já realizadas pela entidade:  

  • Hajam boas práticas reguladoras e fiscalização contínua como forma de garantir a aprovação e a produção de medicamentos biológicos de alta qualidade, de forma permanente;
  • O processo regulatório precisa ser fundamentado em estudos completos e feito de forma transparente;
  • A biossimilaridade precisa ser estabelecida por meio de exercício de comparabilidade, caso a caso;
  • No âmbito da Saúde Pública, os biossimilares devem estar vinculados à redução de custos e ampliação do acesso aos produtos biológicos;
  • Para a identificação e a minimização de efeitos adversos, é imprescindível a introdução da farmacovigilância, além da rastreabilidade dos produtos biológicos;
  • Cada produto biológico deve possuir uma denominação não-comercial exclusiva. Facilitando a farmacovigilância e a rastreabilidade;
  • É preciso regulamentar critérios específicos para a intercambialidade a nível nacional; 
  • Devem ser evitadas múltiplas trocas entre produtor originador e biossimilar devem ser evitadas. Pelo menos até que haja estudos específicos que suportem esse procedimento;
  • Alternância entre medicamentos biológicos não deve ocorrer por conveniência econômico-administrativa. O fornecimento dos biológicos devem ser planejados para todo o período de tratamento; 
  • A troca entre o medicamento biológico similar e o comparador, e vice-versa, só pode ser feita com o consentimento prévio do paciente e do médico;
  • Mediante a falha terapêutica de um produto biológico, não se deve prescrever seu correspondente biossimilar como opção terapêutica; 
  • A extrapolação de indicação só pode ocorrer quando os mecanismos de ação e os receptores envolvidos forem os mesmos para as diferentes indicações. E a segurança e a imunogenicidade tenham sido adequadamente caracterizadas para a indicação principal;
  • Pressupostos éticos da relação médico-paciente têm de ser preservados, incluindo a necessidade de decisões compartilhadas de tratamento;
  • Profissionais de saúde, pacientes e gestores devem ser informados sobre os biossimilares, seu processo de aprovação, eficácia e segurança clínica;
  • É recomendável que o termo biossimilar seja incorporado à terminologia oficial da autoridade reguladora, visando clareza e universalidade na comunicação;
  • Não podem ser considerados biossimilares produtos biológicos aprovados por via de desenvolvimento individual. É recomendável a eliminação dessa via do arcabouço regulatório nacional.

Posicionamento do Grupo de Estudos de Doenças Inflamatórias Intestinais

Representando o Grupo de Estudos de Doenças Inflamatórias Intestinais, a doutora Stefania Burjak Gabriel e o doutor Danilo Brito Silveira apresentaram o posicionamento da entidade acerca do assunto. De acordo com Stefania, as drogas biológicas, representadas por anticorpos monoclonais, tiveram uma contribuição muito importante no tratamento das doenças imunomediadas, gerando mudanças na sua evolução clínica, menor número de complicações e mudando a expectativa de vida dos pacientes. Nas doenças inflamatórias intestinais, principalmente a de Crohn e retocolite ulcerativa, os medicamentos têm ajudado a diminuir danos estruturais, como a estenose, o número de cirurgias e hospitalizações.

A gastroenterologista ressaltou que apesar da eficácia dos medicamentos biológicos, seu alto custo de produção é um grande problema para os sistemas de saúde e justamente por isso foram iniciadas pesquisas para obter um medicamento mais barato, que culminou no surgimento dos biossimilares. Esse tipo de medicamento precisa ter a mesma eficácia e segurança. Além  de ter um efeito semelhante sobre a imunogenicidade, demonstrar ser efetivo em todas as doenças que se proponha a tratar, ser capaz de substituir o de referência, para a mesma indicação, sem diferenças significativas nos seus resultados terapêuticos.

Mas apesar de todas essas garantias que o medicamento precisa apresentar antes de poder ser utilizado pelos pacientes, a Dra. Stefania conta que em outros países, que já fazem uso dos biossimilares há mais tempo, notou-se uma descontinuação da droga após a troca pelo medicamento biossimilar, principalmente por efeitos subjetivos. “O que eles viram é que a descontinuação da droga acontecia durante a troca pelo biossimilar, quando surgiam efeitos subjetivos. Talvez o efeito nocebo, que é o efeito não farmacológico, mas que tem efeito negativo na terapêutica. O paciente tem queixa, tem o sintoma, mas você não consegue detectar por métodos objetivos, no caso da doença inflamatória intestinal, não tem aumento da flora inflamatória”, explicou ela.  

Para ilustrar a questão, Dr. Dannilo Brito da Silveira, proctologista, apresentou uma pesquisa feita pela Federação Européia de Doença de Crohn e retocolite, onde foram avaliados 1181 pacientes que responderam a um questionário sobre diversas questões relacionadas aos biossimilares. O resultado mostrou que quase 40% nunca tinha ouvido falar de biossimilar. Para o proctologista, essa é uma das principais causas do efeito nocebo.  “O efeito nocebo tá explicado, eu não sei o que eu tô tomando, então via de regra eu vou pensar que não vai funcionar”, disse ele. 

O profissional também apresentou um estudo realizado no Reino Unido, onde após um amplo trabalho de conscientização de pacientes e equipe de saúde a respeito dos biossimilares, foi sugerido o uso desse tipo de medicamento a todos. A economia gerada com a sua compra seria toda revertida ao tratamento da doença. Por decisão unânime, a ação foi implementada e além de uma economia considerável, também não foi notada nenhuma diferença com o uso do biossimilar em relação ao medicamento de referência.

“A diferença foi no custo, porque eles compram o biossimilar com valor inferior. Então talvez esse estudo sirva de exemplo pelo seguinte: se a gente tem um medicamento que já foi verificado sua eficácia, sua segurança pela agência em questão, no nosso caso pela ANVISA, cabe a gente informar ao paciente o que ele vai receber, informar a diferença de um para o outro. Esses medicamentos foram feitos com boas práticas a gente não vai ver uma diferença importante, impactante”, reforçou. 

O proctologista compartilhou com os presentes um consenso do Grupo de Estudos de Doenças Inflamatórias Intestinais, publicado em 2017, que diz o seguinte:

  • O biossimilar, especificamente o infliximabe CT-P13, o Remsima, é eficaz e seguro na indução da resposta e da remissão clínica da doença de Crohn em pacientes virgens de tratamento com anti-TNF;
  • O biossimilar, o Remsima, é eficaz e seguro na indução da resposta e da remissão clínica na Retocolite Ulcerativa, no caso de pacientes virgens de tratamento com anti-TNF e naqueles com exposição prévia;
  • Todavia, não há estudos randomizados que avaliem o CT-P13 na indicação de retocolite;
  • Na prática clínica não foi identificado perda de resposta com o uso do biossimilar;
  • Há evidências de que o monitoramento de pacientes com doenças inflamatórias intestinais, inclusive nível de droga e do anticorpo anti-droga, não mostrou diferença entre o medicamento biossimilar e o original;
  • Uma única troca do medicamento de referência para biossimilar parece ser segura e eficaz;
  • A alternância entre o infliximabe e o biossimilar (e vice-versa) não foi devidamente avaliada, portanto, não deve ser recomendada.
  • E trabalhos de longo prazo com uso de biossimilar ainda são necessários para monitorar eventos adversos.

Os medicamentos biossimilares vieram para ficar, porém precisam ser seguros e tão eficazes quanto o de referência. É importante aproveitar essa possibilidade para diminuir os custos de compra, permitindo que mais pacientes tenham acesso à droga. Porém, o Grupo ressaltou alguns pontos que ainda precisam ser avaliados no país, como a regulamentação que está em andamento e com alguns pontos ainda em modificação. Além disso, prescritores e pacientes têm conhecimento superficial do assunto, como também há ausência de um programa bem definido de trocas e  uma farmacovigilância específica para os biossimilares. 

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